Entrevista – Osvaldo Jurck: "A transição dá um novo foco"
Entrevista – Osvaldo Jurck: "A transição dá um novo foco"
1 de junho de 2014 por Daniel Filho
SÉRIE ESPECIAL – Contrário à reeleição, Osvaldo Jurck, prefeito de Schroeder, é o quarto prefeito da região a ser entrevistado por O Correio do Povo e a comentar seu perfil de gestão, participação popular na política e a defender a parceria privada na administração
Osvaldo Jurck (PSDB) não gosta de entrar em atritos, criticar administração anterior ou oposição. Em sua fala, valoriza o diálogo, o fim de brigas partidárias até mesmo em época de eleições, e constitui um prefeito tucano cujo vice é petista, uma união inviável nacionalmente pelas brigas históricas entre os dois grupos. "A situação é tão tranquila que nem chegamos a conversar sobre quem apoiar nas eleições para presidente", comenta.
O prefeito de Schroeder escapa de dizer que fica com as decisões finais da administração, diferenciando-se do que falaram os três prefeitos ouvidos até agora na série de O Correio do Povo. Ele confirma que a Prefeitura está levantando quanto será o repasse para os Bombeiros Voluntários, que começam as operações no dia 21 de junho com sede própria no município. Defendeu a parceria privada na oferta de serviços públicos, exigida por lei ao Estado. Jurck, também, é o único prefeito até agora a ver positivamente o momento de realização da Copa do Mundo no país.
Defensor da transição de uma gestão a outra, voltou a falar que não pretende ser candidato à reeleição e espera que outras pessoas se disponibilizem para o cargo. Ao começar a entrevista, o prefeito reforçou a realização da Tratorfest, nos dias 7 e 8 de junho, e afirmou que a festa pode ser uma promoção futura da Prefeitura e entrar no calendário oficial de eventos. E aproveitou o tema para puxar a conversa para o potencial turístico de Schroeder.
O Correio do Povo: O turismo em Schoeder está bem explorado?
Osvaldo Jurck: Temos que pensar em um projeto turístico. Com nossa localização, encostas, reserva da Mata Atlântica, cachoeiras, podemos trabalhar bem no futuro. Precisamos conscientizar as propriedades particulares, onde ficam os pontos atrativos para os turistas. O trabalho deve ser feito regionalmente. Temos um bom momento de sintonia entre os prefeitos na região.
OCP: Como o senhor define seu perfil administrador?
Jurck: Trabalho de maneira descentralizada. As secretarias e departamentos têm sua autonomia com o devido acompanhamento. Nem sempre, apesar da boa vontade, todas as pessoas são devidamente preparadas para exercer essa autonomia.
OCP: O senhor fala dos servidores?
Jurck: É um desafio para quem participa de uma administração (pública) pela primeira vez. Demora um pouco de tempo até pegar o fluxo de trabalho e entender a estrutura. Estamos começando a entrar no ritmo, depois do primeiro ano. Dialogar é fundamental para as coisas se encaminharem e temos um bom relacionamento entre os colegas de trabalho.
OCP: As decisões finais da equipe são centralizadas no senhor?
Jurck: As áreas definem porque estão próximas da comunidade. Nós fazemos o filtro e discutimos as ideias em reunião, sempre dentro dos limites orçamentários. Temos bastante dificuldade de investimento, pelo crescimento populacional nos últimos anos. As áreas apontam a prioridade e, em cima disso, tomamos as decisões que conseguimos atender.
OCP: Com esses limites orçamentários, o que a Prefeitura está deixando de fazer?
Jurck: Recebemos a estrutura do município com algumas dificuldades, como os 54% do orçamento destinado à folha de pagamento. No ano passado, não conseguimos fazer contratações em algumas áreas para terminar o ano com 51%, dentro da lei. Mas não há como parar com contratações totalmente. Por exemplo, este ano tivemos um crescimento de 10% no ingresso de novos alunos na rede municipal, foi inevitável a contratação de mais funcionários para a Educação. Tenho apenas quatro secretários. A quantidade não é sinônimo de eficiência, é uma questão de estratégia. E estamos rigorosamente em dia com os fornecedores e pagamento de servidores. Agora, sim, podemos iniciar nosso projeto de administração. Em julho, começamos a revisão do Plano Diretor. O trabalho vai durar 10 meses, ouvindo a população e classe empresarial.
OCP: Como é sua relação com o cidadão de Schroeder?
Jurck: Temos um município pequeno, então a gente é muito próximo. Eles sabem onde moro. Fico sabendo rapidamente do que acontece e isso ajuda a tomar decisões. É gratificante ter esse contato. Todos somos servidores públicos. Nem sempre a gente consegue fazer, as limitações são grandes. Mas temos que ser receptivos, ouvir as pessoas e deixá-las ajudar nas decisões.
OCP: Os Bombeiros Voluntários estão se instalado na cidade…
Jurck: Inclusive estávamos reunidos agora (antes da entrevista).
OCP: E como está o andamento da implantação?
Jurck: É um trabalho que vem amadurecendo com o tempo. Chegou o momento de oficializar a parceria legal. A corporação já vem formando alunos e se preparando com os equipamentos. Dia 21 de junho é a data marcada para começar as operações. Temos uma parceria excelente com Jaraguá, mas, com o crescimento e com a dificuldade de mobilidade, chega uma hora que precisamos fazer a nossa parte. A comunidade está com uma grande expectativa em relação a isso. É momento de somar forças entre poder público, associação comercial e os voluntários.
OCP: Qual vai ser o repasse da Prefeitura à corporação?
Jurck: Ainda estamos definindo isso, mas é uma situação tranquila. A classe empresarial e a população também vão ajudar. Não tenho o valor bem definido, o levantamento está sendo feito.
OCP: O serviço de segurança, por lei, deve ser oferecido pelo Estado. Como o senhor vê a interferência voluntária ou da iniciativa privadas em serviços públicos?
Jurck: A lei é bem clara e o Estado deveria fazer. Mas as pessoas moram no município e querem as soluções aqui. Para elas não é importante saber de onde vem o recurso e como ele se mantém. Mas desejam que os anseios sejam atendidos. Precisamos ser parceiros e temos atuado dessa maneira. Não seria nossa responsabilidade doar viatura para a Polícia Militar, por exemplo. Por isso também os municípios estão sem capacidade de investimento. Mas temos que focar as pessoas e resultado para elas.
OCP: A população é participativa na administração?
Jurck: Como aqui é uma região industrial, conciliar horários para todos participarem não é fácil. Mas é muito importante. Os autênticos representantes são os conselhos municipais e têm funcionado bem. Nem sempre as pessoas que gostariam têm a oportunidade de participar.
OCP: O senhor continua com suas atividades na iniciativa privada?
Jurck: Não. Sempre trabalhei em empresas no setor administrativo. Tenho um perfil de empresa, que é importante conciliar com a área pública. Aqui (no setor público), há uma dificuldade de decisões que não depende da gente. Mas as leis existem e temos que ser muito rigorosos no cumprimento.
OCP: E como vê essa transição de administradores de empresas privadas para a gestão de Prefeituras, quadro comum em nossa região?
Jurck: Acho legal. Mas também vejo a alternância de poder como saudável. Fui prefeito, depois fiquei oito anos na empresa. Nas últimas Eleições, não havia tantos candidatos disponíveis. Nesse momento, aceitamos novamente o desafio. Mudar é um comparativo com a gestão anterior, é bom colocar novas pessoas. É um "gás novo", são novas ideias e contribuições. Inclusive, em Schroeder, nós temos três ou quatro encontros durante o ano com prefeitos anteriores. Sentamos lá, falamos pouco em partidos, mas compartilhamos experiências. É um momento descontraído em que fazemos um "chek-up" do município.
OCP: Então o senhor não pensa em segundo mandato?
Jurck: Tenho essa opinião bem clara. Se tem outros candidatos para a sucessão, não devemos ser exigentes na reeleição. É muito importante outras lideranças se colocarem à disposição, o que em municípios menores é difícil. A transição muda o clima, o foco e dá um novo direcionamento.
OCP: Como o senhor lida com a aliança entre PT e PSDB, partidos com disputas históricas?
Jurck: O mais difícil foi oficializar a candidatura nas conversas a nível estadual e federal. Temos que respeitar as filosofias de cada partido, mas aqui prevaleceu as pessoas. Tenho uma perfeita sintonia com o Zamboni (vice-prefeito, do PT). Ele não fica integralmente aqui, mas está sempre prestativo. O foco é o município. Não temos nenhuma dificuldade. Temos a minoria na Câmara, mas em momento algum tivemos dificuldade nisso.
OCP: E como fica essa parceria para apoio nas Eleições presidenciais?
Jurck: A situação é tão tranquila que ainda nem chegamos a conversar sobre isso. Eu vou defender um candidato, ele vai defender outro e a vida segue. Temos muito respeito nisso.
OCP: Uma pergunta que fazemos a todos os prefeitos nesta série: qual sua visão sobre a realização da Copa do Mundo no Brasil?
Jurck: Em Schoeder temos um grande trabalho na área de esporte amador, não é uma despesa, mas, um investimento no cidadão. Agora é momento de torcermos para a seleção e vender nosso país de forma positiva ao mundo. Se haveria uma maneira de se manifestar contra, isso deveria ser feito na época quando houve a confirmação para sediar os jogos. Agora não temos mais tempo. Temos dificuldades, mas é hora de somar e fazer com que esse momento seja refletido positivamente depois.
Fonte : OCP OnLine